Fórum Fafe
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

4 participantes

Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por gott Seg 16 Jun 2008, 16:32

Para mim o maior poeta português de sempre.
Em ano de comemoração do seu nascimento, vou deixar uns poemas...
gott
gott
Power User
Power User

Número de Mensagens : 130
Idade : 36
Data de inscrição : 16/04/2008

Ir para o topo Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Re: Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por gott Seg 16 Jun 2008, 16:34

Poema

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Álvaro de Campos
gott
gott
Power User
Power User

Número de Mensagens : 130
Idade : 36
Data de inscrição : 16/04/2008

Ir para o topo Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Re: Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por FreezingMoon Seg 16 Jun 2008, 20:12

aproveitando o topico:


OPIARIO (fernando pessoa)

É antes do ópio que minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
são dias só de febre na cabeça
E,por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e inconpetencia astral
Eu vivo a vincos d'ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os proprios gozos glanglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar,sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Percursor.

Ando expiando um crime de uma mala,
Que um avo meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca,vinte a vinte,
E cai no ópio como numa vala.

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparencias latejantes
E numa noite cheia de brilhantes
Ergue-se a lua como a minha sina.

Eu,que fui sempre um mau estudante,agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida ,canfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma especie de braço
Que ao meu pescoço me sofoca e ampara.

E fui criança como toda a gente.
Nasci numa provincia portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei ingles perfeitamente.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossivel que esta vida dure.
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida de bordo é uma coisa triste
Embora a gente se divirta as vezes.
Falo com alemães,suecos,e ingleses
E a minha mágoa de viver presiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a India e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio.É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a vida faz-me tédio.

Fumo.Canso.Ah uma terra aonde,enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a India que há
Se não há India senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha sorte,
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia .
Vivi na Escócia.Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avózinha que anda
Pedindo esmola ás portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said ,navio de ferro!
Volta á direita ,nem eu sei para onde
Passo os dias no smoking-room com o conde
Um escroc frances,onde de fim de enterro...

Volto á Europa descontente ,e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monarquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Gostaria de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insipida que vi.
Hoje,afinal,não sou senão,aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escoces há dias em jejum.

Não posso estar em parte alguma. A minha
Pátria é onde não estou.Sou doente e fraco.
O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me com a sueca...e o resto ele adivinha.

Um dia faço escandalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida,e acho fatais
As iras com que ás vezes me debordo.

Levo o dia a fumar,a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
E eu já tão bebado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

Escrevo estas linhas.parece impossivel!
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O facto é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensivel.

Os ingleses são feitos para existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranquilidade.A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um genero de portugueses
Que depois de estar a India descoberta
Ficaram sem trabalho.A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente te-la!
Nem leio o livro a minha cabeceira.
Enjoa-me o oriente.É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força.Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir.Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as parta! E isto afinalç é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que não o veja!

Ora! Eu cansava-me do mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! se isto que tenho não é febre,
Não sei como é q se tem febre e sente.
O facto essencial é q estou doente.
Está corrida,amigos,esta lebre.

Veio a noite. tocou já a primeira
Corneta,pra vestir para o jantar.
Vida social por cima!Isso!E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!)sanque e um revolver lá pro fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar.há-de me achar banal,
A mim e á minha vida...Ora! um rapaz...
O meu proprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal

Ah quanta alma haverá,que ande metida
Assim como eu nalinha ,e como eu mistica!
Quantos sob a casaca caractristica
Não terão como eu o horror á vida?

Se ao menos eu for para fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou para Maelstrom,cada vez mais pro centro
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inutil.mas é tão justo se-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E,ainda que co'os cotovelos rotos,
Ser heroi,doido,amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
Á boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraia os outros ,os tais sãos.

O absurdo como uma flor da tal india
Que não vim encontrar na india,nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a...

Deixe-me estar aqui,nesta cadeira,
Até vierem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego,o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caida
Pra cova por um alçapão de estouro!
A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que é quero é fé .é calma,
E não ter estas sensações confusas,
Deus que acabe com isto!Abra as eclusas
E basta de comédias na minh'alma!
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
1914, Março
. . .
[BACK]
FreezingMoon
FreezingMoon
FórumAdmin
FórumAdmin

Número de Mensagens : 2395
Idade : 38
Localização : Fafe\Guimaraes
Data de inscrição : 18/03/2008

Ir para o topo Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Re: Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por MaNg Ter 17 Jun 2008, 03:05

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa
MaNg
MaNg
Hardcore User
Hardcore User

Número de Mensagens : 362
Idade : 36
Localização : Fafe
Data de inscrição : 17/03/2008

Ir para o topo Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Re: Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por ajgod Ter 17 Jun 2008, 04:27

ainda bem que não saiu Pessoa no meu exame.. Cool
mas saiu Os Lusiadas Evil or Very Mad
ajgod
ajgod
FórumAdmin
FórumAdmin

Número de Mensagens : 1497
Idade : 34
Localização : Fafe @ Braga
Data de inscrição : 18/03/2008

Ir para o topo Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Re: Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por FreezingMoon Ter 17 Jun 2008, 07:24

eu ja nao posso dizer o mesmo.... no meu fui prai exame a precisar de 10 e tive8,5

na segunda fase saiu pessoa tive 14 e nem peguei num livro.....

na altura rendeu andar colado a moonspell e ler bastante sobre pessoa uns meses antes....
FreezingMoon
FreezingMoon
FórumAdmin
FórumAdmin

Número de Mensagens : 2395
Idade : 38
Localização : Fafe\Guimaraes
Data de inscrição : 18/03/2008

Ir para o topo Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Re: Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por ajgod Ter 17 Jun 2008, 14:00

freezing_moon escreveu:eu ja nao posso dizer o mesmo.... no meu fui prai exame a precisar de 10 e tive8,5

na segunda fase saiu pessoa tive 14 e nem peguei num livro.....

na altura rendeu andar colado a moonspell e ler bastante sobre pessoa uns meses antes....

Moonspell decidiu Twisted Evil
ajgod
ajgod
FórumAdmin
FórumAdmin

Número de Mensagens : 1497
Idade : 34
Localização : Fafe @ Braga
Data de inscrição : 18/03/2008

Ir para o topo Ir para baixo

Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935 Empty Re: Fernando Pessoa- Poeta| 1888- 1935

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos